Tempo de acontecer.

Nos últimos tempos sobra-nos tempo! Essa disponibilidade permite-me que veja filmes que não veria noutras alturas, e numa dessas ocasiões, uma frase dita por um qualquer artista ficou-me gravada na memória. Dizia ele que “a vida acontece enquanto planeamos outras coisas” e, nas circunstâncias em que vivemos hoje, não podia concordar mais com ele! 
Planeamos tudo ao milímetro e, depois, basta um organismo ínfimo, invisível aos olhos, para nos impor a reorganização dos dias, das prioridades, da importância que damos “aos nossos”, e ao tempo que passamos com eles. A partilha dos dias tem sido mais sentida e mais serena. Tem havido (mais) tempo para tudo e para nada. Tem havido (mais) tempo para rir, para chorar, para fazer silêncio e para berrar. Tem havido (mais) tempo para arrumar (a casa e as ideias), para desarrumar, e para (des)ocupar todos os cantos. Mais tempo para perder a paciência, mas também para encontrar conforto nas palavras dos outros! Esta semana, tive um desses momentos… Depois de mais uma disputa pela hora de ir dormir, a minha filha, agora uma adolescente assumida em idade e comportamento (não tanto no tamanho) “saltou-me” para o colo como se ela própria fosse uma mochila – faz isso desde que me lembro, com uma maestria trabalhada ao longo dos anos (nem me preocupo em segurar o seu corpo franzino, pois sei que, de algum modo, ela arranja forma de o fazer)! Depois de ela se deitar, e aconchegando-a para dormir, brinquei com a situação e questionei-a: “como é que vai ser quando não couberes no meu colo?”. Sem hesitação, ela respondeu «cabes tu no meu»!
E assim, de forma simples, a vida acontece sem que se planeie grandemente!

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