O apelo da normalidade!

Sou professora porque não poderia ser outra coisa, e assumo este papel com o maior contentamento pois percebi, ao longo dos anos, que temos na mão um poder imensurável – o de tocar vidas (e, particularmente, deixarmo-nos tocar)!

Quando tinha cerca de 9 anos, o meu filho mais velho teve necessidade de escolher entre duas atividades lúdicas. Depois de optar, perguntei-lhe porque tinha feito aquela escolha, ao que, do alto da sua sapiência, me respondeu que, se escolhesse a outra, seria orientado por mim, não sendo uma situação justa para ele ou para os seus colegas, que poderiam sentir-se “pressionados”. Ele queria aproveitar em pleno! Se eu já o considerava um miúdo com bom senso em tenra idade, naquele dia tive a certeza! A decisão dele livrou-me de constrangimentos e proporcionou-me a possibilidade de o acompanhar como qualquer mãe faz. No fundo, ofereceu-me a normalidade (tantas vezes desconsiderada) e a hipótese de não misturar papéis ingratos, quando conjugados - o de mãe e o de professora! 

Hoje, no meio de toda esta (re) descoberta do E@D, exige-se (e misturam-se) múltiplos ofícios que teimam em transformar os nossos dias em tudo menos no que deviam ser! Muito se tem falado deste assunto, mas nas famílias que querem manter intacto o compromisso com a aprendizagem (e com a escola), começa a haver um claro desalinho nos afetos… cá por casa, com a minha filha, a relação maternal começa a acusar necessidade de cuidado, porque é complicado distinguir a figura pedagogicamente preparada que confere e cobra o trabalho realizado, da pessoa afetiva que dá espaço, aceita ritmos e particularidades que são mesmo assim. A tolerância corre o risco de se confundir com permissividade, a partilha dá lugar à carência de espaço(s), a exigência facilmente desliza para uma imposição desmedida e o privilégio de aprender transforma-se num embrulho pesadíssimo. Para miúdos e graúdos!

O tempo é de confinamento, e a capacidade de gerir as relações toma outros contornos… O equilíbrio é, por isso, uma tarefa hercúlea, sendo cada vez mais urgente fazer opções que contribuam para manter a harmonia, e que vão ao encontro das necessidades de todos os que coabitam!

Hoje, para que ninguém se sinta pressionado, eu escolhi a relação afetiva, escolhi a (possível) normalidade!





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