Estamos f******
Tirei esta foto numa manhã fria e calada, em que a aragem era a única coisa que confirmava a realidade daquele panorama. No meio da agitação que vivemos, nem sempre é possível conseguir esta mesma sensação de quietude e, talvez por isso, permito-me o simples contentamento de conduzir de janela aberta, de preferência com o braço de fora (sempre que as condições climatéricas, e de segurança, o permitem). Vá-se lá entender porquê, gosto da sensação - “transporta-me” para manhãs como a da imagem. Mas enfim… foi num destes dias em que, por estar a conduzir de janela aberta, constatei da forma mais audível possível, que o estado da (nossa) Nação se apregoa no mais velho e bom português!
Circulando na cidade das obras eternas (a minha), vi-me parada em virtude de trabalhos de melhoramento do pavimento da estrada. Ora, estando com a janela aberta, e com tempo para reparar no que estava à minha volta, achei uma certa piada à forma como um grupo de trabalhadores organizava as suas tarefas. Gradualmente, foram pousando ferramentas uma vez que, pela hora, se aproximaria a hora do almoço! A dada altura, chamou-me a atenção uma conversa mais acesa entre dois homens que estariam a analisar a qualidade do trabalho realizado… um deles queria aperfeiçoar o alcatrão, concluindo o pavimento no qual estivera a trabalhar. Para meu espanto, o homem, que me pareceu o encarregado (tinha uma prancheta na mão, a apontar coisas), elevou o tom de voz e bradou «És doido? Se vamos fazer tudo direitinho estamos f******» (e disse-o com as letras todas, sem asteriscos)!!
No momento ri-me, com vontade de chorar, pois não consegui deixar de “ver” ali a tragicomédia pela qual estamos a passar… meio povo a tentar alisar o caminho, e outros tantos burgessos (perdoem-me os mais sensíveis, mas não me ocorre outra palavra) preocupados com tudo, menos em fazer trabalho bem feito! Mais grave ainda quando os burgessos são os que têm a prancheta na mão!
Não sei se somos um povo de brandos costumes, simplesmente estúpido ou sem vontade de ser mais e melhor, mas sei que somos inteligentes no que convém! Quero continuar a manter a esperança nas gerações vindoiras - estejamos alerta para os perigos da aprendizagem por imitação, modelagem e/ou observação, seja para arranjar a estrada, para cuidar de nós e do(s) outro(s) ou para governar um país. Com os exemplos que temos tido, corremos o real risco de estarmos todos fodidos (com todas as letras)!
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